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Junior é professor de geografia, Geógrafo, maranhense, católico, flamenguista, motense, amante da velocidade. Guia das Oficinas de Oração e Vida para jovens e um brasileiro que nunca desiste .

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A FRAGMENTAÇÃO DA IUGOSLÁVIA



No Século XIX surgiu um movimento que buscava a união dos povos eslavos do sul da Europa. O mesmo, conhecido como "Ilirismo", tinha como objetivo integrar em um só Estado as regiões integrantes de dois grandes impérios: o Austro-Húngaro e o Turco. Porém, somente após finalizada a Primeira Guerra Mundial é que esta idéia pode tornar-se realidade. Croácia, Eslovênia e Bósnia-Herzegovina, que separaram-se do império Austro-Húngaro, uniram-se à Sérvia e a Montenegro que, até o final do Século XIX formavam parte do império Turco. Sobre estas peças soltas deste emaranhado de culturas oriundas de dois impérios desaparecidos, passou a conformar-se o reino da Iugoslávia.

A Segunda Guerra Mundial foi devastadora para este país. Em 1941, a Iugoslávia foi invadida pelas tropas nazistas e desmembrada em diversos componentes que passaram a repartir-se entre a Alemanha e suas aliadas Itália e Hungria. Para contraporem-se aos invasores surgiram dois grandes grupos guerrilheiros. O primeiro perseguia o objetivo de libertar a Sérvia e, o segundo, de cunho comunista, buscava a libertação de toda a Iugoslávia. Este grupo esteve liderado pelo Secretário-Geral do Partido Comunista Iugoslavo, Josip Broz, mais conhecido por Tito. Correspondeu a este personagem ser o artífice da libertação de seu povo.

É importante destacar que a Iugoslávia emergiu da Segunda Guerra Mundial totalmente devastada. Diferentemente dos demais regimes comunistas do leste europeu, produto dos avanços das tropas soviéticas, o iugoslavo impôs-se, basicamente, pela força de suas armas. Isto proporcionou ao governo do Marechal Tito uma liberdade de manobra que não experimentaram os demais regimes comunistas da região. Inevitavelmente isto traduziu-se, automaticamente, em um permanente enfrentamento com Moscou.

Foi no manejo de suas diferenças étnicas que o modelo iugoslavo adquiriu os seus traços mais característicos. Estabeleceram-se cinco repúblicas soberanas (Eslovênia, Croácia, Sérvia, Montenegro e Bósnia-Herzegovina) que aderiram a uma Federação. Mais tarde a Macedônia também adquiriria o caráter de República soberana. Por sua parte, a Sérvia contava dentro de seu território com duas províncias autônomas: Voivodina e Kosovo. O Poder Legislativo desse Estado Federal estava conformado por um Conselho de Nacionalidades que representava os interesses das seis Repúblicas e das duas províncias autônomas.

Este mosaico de diversas nacionalidades pode funcionar graças ao carisma e a forte personalidade do Marechal Tito, que atuava como o grande árbitro na miríade de interesses em disputa. Como um moderno rei Salomão ele mantinha o equilíbrio entre as posições em conflito. Sua estratégia consistia em evitar que alguma República ou setor se fortalecesse demasiadamente e adquirisse preponderância que fizesse perigar a estabilidade do conjunto. Em síntese, Tito propiciava um equilíbrio negativo de forças em que nenhuma das repúblicas sobressaísse em relação às demais.

Após a morte do obstinado Marechal, em 1980, as coisas começaram a marchar de forma atabalhoada sob a liderança coletiva que ele havia desenhado para sucedê-lo. Mesmo aos solavancos, entretanto, a unidade da Federação se mantinha. O colapso do comunismo e a febre nacionalista que contaminou a região, fizeram emergir as profundas contradições que se aninhavam na alma iugoslava. A partir desse momento histórico começaria o processo de esfacelamento do Estado iugoslavo.

No final dos anos oitenta existia na Iugoslávia duas posições extremas. Uma representada pela Sérvia e a outra pela Eslovênia. Enquanto a Sérvia adentrava em uma autêntica revolução nacionalista, a Eslovênia evidenciava um acelerado processo de democratização.

Para conseguir manter uma Iugoslávia forte, Tito sempre creu necessário manter a Sérvia débil. Slobodan Milosevich chegou ao poder idealizando uma revanche dos sérvios. Para fortalecer a Sérvia o novo líder nacionalista suprimiu a autonomia das duas províncias autônomas que existiam no interior destas repúblicas: Voivodina e Kosovo. No primeiro caso isso pouco importou pois a grande maioria de sua população é de origem Sérvia. No Kosovo, ao contrário, a imensa maioria de sua população é de nacionalidade albanesa. A reação em Kosovo frente à supressão de sua autonomia, desencadeou a repressão Sérvia. Isto foi a gota que fez derramar a paciência da Eslovênia frente aos excessos da Sérvia e determinou que, juntamente com a Croácia, se tornassem independentes da Federação Iugoslava. Aí começou o desmembramento do Estado federal que ficaria limitado à Sérvia e Montenegro.

As Forças Armadas iugoslavas, sob o controle sérvio , tentaram impedir, sem êxito, a secessão da Eslovênia e da Croácia. A partir desse momento a atitude da Sérvia e de Milosevic iriam mudar. Se não era possível manter a Iugoslávia unida, ao menos tentaria integrar a todas as populações sérvias, fora da Sérvia, em uma só unidade. Impôs-se, desta forma, a tese da "Grande Sérvia". Sobre esta base as regiões sérvias da Croácia foram anexadas. Não obstante, quando também a Bósnia se lançou no caminho da secessão, as coisas tornaram-se muito mais difíceis. As populações sérvias, dentro dessa República, encontravam-se disseminadas, em todos os quadrantes do território, convivendo entre comunidades croatas e muçulmanas. A resposta de Milosevic foi muito simples: a aplicação deliberada e sistemática do terror, como via para conseguir a evacuação de espaços geográficos que pudessem ser ocupados pelos sérvios. Começava ali a "limpeza étnica". Em novembro de 1995, frente às pressões da OTAN e a ofensiva militar da Croácia para recuperar os territórios perdidos à Sérvia, firmava-se o Acordo de Dayton que poria fim ao conflito bósnio.

A situação do Kosovo que esgotou a paciência da Eslovênia frente aos sérvios, em 1991, terminou também por esgotar a paciência da OTAN frente à Sérvia, em 1999. Isto forneceu a Milosevic todos os trunfos para que ele possa encerrar os anos noventa, reeditando os piores excessos que tornaram tristemente sangrento este Século XX.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa, adorei o seu poste! Eu estava tentando entender até agora a guerra da Croácia, e seu texto me deu uma panorama geral muito bom!
Gostei do blog! Passarei a ser seguidora!