Globo censura Sindicato de Pernambuco
A Rede Globo censurou um plano de mídia para a Campanha Nacional 2008 produzido pelo Sindicato dos bancários de Pernambuco (Seeb PE). A campanha de mídia está no ar desde domingo 5, e ficará até hoje 7. O Vídeo, de 45 segundos, recupera o lema Banco Mata, critica a ganância dos bancos e explica porque os bancários estão em greve por tempo indeterminado. Será veiculado nas principais emissoras, menos na Globo, que tratou de encontrar um motivo para censurar o material.
A desculpa usada para barrar a veiculação não se sustenta, para não dizer que é ridícula e estapafúrdia. Segundo o contato comercial da Globo Nordeste, o nome do Sindicato teria que ser inserido em caracteres no VT; ou seja, por escrito e por extenso. Ou o Sindicato acrescentava o detalhe, ou o VT não iria ao ar. Isso, a menos de 30 minutos do horário-limite de entregar o material nas quatro emissoras onde se havia contratado o espaço.
Esgotadas as tentativas de diálogo, a Assessoria de Comunicação, com apoio da Presidência e da Secretaria de Comunicação, pediu que a Globo mandasse a condição por escrito, via correio eletrônico, já que o Sindicato não modificaria o VT e o pagamento das inserções já havia sido feito. O contato disse que não faria isso, e que o cheque seria devolvido. Fez mais, tentou inverter o ônus do problema, acusando o Sindicato de tentar "esconder o nome". Que se diga: a assinatura está no áudio, em alto e bom tom. E está na logomarca da entidade, bastante conhecida - e onde se lê "Bancários de Pernambuco", que fecha o VT.
"Quero saber se eles exigem do Shopping Recife, ou do Bradesco, que escrevam seus nomes por extenso, junto com as marcas", questiona a secretária de Comunicação do Sindicato, Emerenciana Rêgo - Mereh.
A exigência, que não se encontra em nenhuma lei ou regulamento de veiculação de audiovisual - tanto que as demais emissoras o estão veiculando, sem problema -, na verdade, esconde o verdadeiro motivo da censura: o VT expõe as mazelas e, portanto, a imagem da banca nacional. Não à-toa, o referido contato avisou, durante as diversas conversações para contratar o espaço, que o VT não seria aprovado caso tivesse imagem de fachada de bancos. E é óbvio que teria, e isso foi dito. O texto já havia sido enviado antes da contratação, para todas as emissoras, como é praxe. Mas a Globo - e só a Globo - exige conhecer o VT antes de fechar o contrato, mesmo o pagamento sendo feito antecipado, a preços de tabela cheia - "as outras vendem desconto, nós vendemos audiência", retumbou Adeládio, o contato local.
O material foi mandado para São Paulo, direto da produtora, via correio eletrônico, para um certo Dido Júnior. Ao que parece, ele é o encarregado de exercer o papel de censor de plantão. Naturalmente que quem dá a notícia ao "cliente" é o contato local.
Foi o que fez Adeládio, que veste a camisa global, com gosto. Ele reiterou que "gostaria muito de atender ao Sindicato, mas só posso fazê-lo se vocês corrigirem o VT". Diante da negativa em atender a exigência absurda da Globo, o contato disse que o Sindicato não enviasse a fita, porque o espaço não havia sido reservado e, portanto, ela não seria veiculada.
Detalhe: na manhã da segunda-feira, 06, o financeiro do Sindicato constatou que o cheque que pagaria as duas veiculações, no jornal local NE 1, edição do mesmo dia, havia sido compensado. A Assessoria de Comunicação do Sindicato voltou a fazer contato com Adeládio. Eis o diálogo:
Assessora - Acabo de saber do financeiro do Sindicato, que a Globo depositou o cheque, e ele foi compensado.
Adeládio - Não era para depositar?
Assessora - Mas você disse, na sexta, que o cheque seria devolvido pois a Globo não iria veicular o VT... Quer dizer que eu posso mandar entregar a fita para veiculação?
Adeládio - Se vocês corrigirem o VT, a gente veicula.
Assessora - Não há nada de errado com o VT. Como é que ficamos, então!?
Adeládio - Vou ligar para o meu financeiro e pedir para restituir o dinheiro.
É assim: a liderança na audiência - e na captação de recursos publicitários, inclusive governamentais - concede a Globo a arrogância de se atribuir poderes de "Imperatriz do Brasil".
Mas não tem que ser assim: "O Sindicato vai tomar as devidas providências junto ao Procon, o Ministério Público e a Justiça. A Globo vai ter que responder no âmbito do Código de Defesa do Consumidor e por cerceamento de atividade sindical, sem contar que é uma concessão pública e deve respeito ao contribuinte", observa Marlos Guedes, presidente do Sindicato. Ele lembra que "cabe processo por danos materiais, uma vez que a Globo tentou impedir que o Sindicato cumprisse seu dever de avisar a população sobre a greve por tempo indeterminado. Felizmente não ficamos nas mãos dela, já havíamos contratado outras emissoras". Cabe, também, denúncia junto ao Conar, conselho nacional regulador de propaganda, como lembra Mereh.
Não é a primeira vez que isso ocorre, embora seja a primeira que o Vídeo produzido pela entidade não vai ao ar na plim-plim. Em 2005, por exemplo, a emissora usou a falta de registro da produtora do material na antiga Ancine, hoje Ancinav - Agência Nacional de Cinema e Audiovisual para colocar obstáculos à veiculação. Todo material produzido deve recolher uma taxa para ser veiculado. O Sindicato, que já tinha efetuado o depósito na conta da Globo, ameaçou seus direitos de consumidor e a emissora acabou encontrando uma produtora que assumiu o vídeo, que acabou indo ao ar.
Fonte: Sulamita Esteliam - Seec PE
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